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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Microcontos Anna Servelhere in www.asesbp.com.br


01.  Ridículo e Silêncio


Psicopatias sociais graves são muitas, mas, o deboche e preconceito, sementes podres de árvore mal tratada, a nos levar ao extremo ridículo da pobreza social.
Tanto os que são acometidos como os que as cometem.
Vamos combatê-los já que não foram prevenidos.
A prescrição nesses casos é o jurídico BO.
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            Tanto silêncio deixou a mãe intrigada.
            Onde estariam todos?
            Possivelmente vendo TV no quarto. Frio e chuvarada!
            - Crianças, desçam já, o café hoje é especial...
            Decidiu buscá-los e voltaram em lágrimas:


02.  Labirinto e Esquecimento

Emoções e sentimentos são prisões, se não forem trabalhadas.
Nunca fui de pensar na morte ou pós-vida.
Até por que não foi prematuro a mim.
Depois de longo tempo ao lado da irmã doente recebi o fatídico telefonema que me fez ver o labirinto da cegueira.
Padeci e revivi por amar.
Eterno aprendiz da graça!
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            A vovó sofria de esquecimento.
            Esquecia-se de apagar luzes, desligar aparelhos, tirar a mesa...
            A família lhe dava remédios. Vitaminas, calmantes e assim por diante.
            Um dia, a neta a observar os atos da avó lhe perguntou:
            - Vovó cadê seus óculos?
            - Perdi-os!
            - Vamos providenciar. Não é caso para remédios.

03.  Xarope e Leque

- Não quero tomar, mamãe!
- Por que meu filho? É de framboesa e vai curar sua tosse.
- Esqueceu que eu não posso tomar isso?
- Querido, nunca soube disso!
- Esqueceu-se da última vez no hospital?
- Provavelmente esqueci. Que houve mesmo?
- Esqueceu-se por quê não foi você quem vomitou esse maldito xarope
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Zoológico cheio, calorão terrível.
Esguicho de água, cobertura improvisada com galhos ou folhas, aliviavam os pobres animais.   
Bom era só o consumo lucrativo de picolés e refrigerantes pelos vendedores ambulantes.
Quando o pavão exibiu sua ostensiva cauda a garota gritou:
- Vejam. Aquele tem o leque!



Partida e Cebola

Saímos cedinho para aproveitar o dia.
Mochila nas costas, água em corote para conservar a temperatura e lá fomos rumo às altitudes.
Foi um passeio e tanto. Sobe e desce divertido.
Éramos ali médico e paciente.
Ao retornarmos, a pergunta foi repetida quase que em uníssono:
- Quando será a próxima partida?
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            No refeitório escolar as merendeiras lacrimejavam.
            -Meu Deus! Será que faltou a merenda de novo?
            Pensei em ajudar sem saber como.
            - Acalmem-se, vou tentar arrecadar e pediremos lanches, sim?
            Dona Assunta, a maitre, passou do choro ao riso:
            - Nada falta professora. Há excesso de cebola no cardápio!
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05. Borboleta e agulha


            Embevecido e como que inebriado contemplo o crepúsculo do último andar, antes que belos tons multicores desapareçam!
            O que vejo? Uma frágil borboleta presa na tela da janela!
Ao seu redor, pares de olhos brilhantes!
            Penso que fui crisálida e deixei de ser cativa.
            Não hesito: rompo a tela e solto-a...
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            Meu primeiro ano escolar foi um horror.
            Escola pública exigia o tratamento odontológico.
            Logo na primeira aula, Dr. Hildo me chamou.
            Ao barulho do motor, minha mão segurou a sua, e a agulha atravessou-me o céu da boca.
            Com a gritaria o amedronto foi geral e ninguém mais pôde ser atendido no dia.


Formiga e Lua
Dois primos brincaram no quintal do sítio o dia todo.
Anoiteceu e as mães preocupadas pediram que entrassem.
Disseram “já vamos”, não sem antes um deles, mais observador, dizer ao outro:
- Olha primo! A lua quebrou ao meio!
E o outro, de súbito retrucou:
- É mesmo né? Onde será que caiu o outro pedaço?
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            - Mãe, me conta a história das comadres.
- Só se você prometer dormir em seguida.
- Prometo! Disse Mel já sonolenta.
- Duas comadres... A cigarra cantava e a formiga trabalhava.
Chegou o inverno e a cigarra foi pedir abrigo à formiga.
- Tá muito frio aqui fora!
- A casa é pequena, comadre. Não cabem duas!


Cachorro e lâmpada

Quando o avistei, pareceu-me escuro, apesar do mesmo porte.
O coração, seco de saudade do cachorro branco, acelerou.
À distância, apagam-se os contrastes e os maus sentimentos.
            - Alô! Quem fala?
            - O Heros. Viram-no.
Joguei ao alto meu celular e chorei.
Por que não haveria de encontrá-lo? Ou ele a mim?
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            Quem não a queria para realizar seus desejos?

            Silverinha também a quis.

            Na ingenuidade de seus cinco anos esfregava a lâmpada que a mãe jogou fora.

            - O que deseja tanto , minha filha?

            - Mamãe, quero uma boneca do meu tamanho .

            O olhar da mãe se acendeu e no dia seguinte lá estava sua boneca!

Motel e dança
            Na viagem ela não cansava de me elogiar: adoro seu nome, lindo até o reverso.
            Sorri da criatividade.
            - Vê? O nosso amor nos faz crescer sempre!
            -Tantos anos juntos! Sessentões.
            - E produtivos.
            - Sim, em quase tudo.
            -Vamos abastecer Telmo? Antes que seque o óleo.
            Tremi ao ler o meu reverso: Motel!

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            Na linguagem, sinonímia significa que um vocábulo atende a diferentes significados.
            Assim: pé (corpóreo ou muda de árvore); manga (fruta ou camisa).
            Inclusive há expressões que ora se encaixam bem: (cochilou o cachimbo cai; quem não chora não mama).
            A palavra dança (é bom para a cabeça e para o pé).


Souvenir e Boca

            Enquanto sua mãe escolhia souvenir carioca para guardar de lembrança da praia, o garoto olhava triste o mar:
            “ECA! Quanta sujeira, lixo espalhado, peixes mortos.”
            -Mamãe, vamos embora daqui!
            Você queria vir à praia querido!
            - Omar quer de volta sua praia limpa!  - Respondeu sério o pequeno grande homem.
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            Ele tocou a campainha.
            Ela atendeu em trajes de praia, boca inchada pelo herpes, mal humorada.
            - Pode vir mais tarde?
            Decepcionado ele balbuciou:
            - A que horas?
            - Lá pelas vinte horas.
            - Atendo a partir das dezoito! - Indica a placa
            - Houve imprevisto, desculpe!
Não desculpou!
            Locais assim existem de sobra.


Lobisomem e Pizza
            No restaurante italiano não chegavam ao acordo quanto ao pedido.
             Um queria lasanha, outro canelone, e por aí vai.
            Até que o pizzaiolo lá do fundo sugeriu:
            - Que tal rodízio de pizza? Aí tem todos esses ingredientes que apreciam.
            Aprovaçãop geral: muzzarella, dois queijos, romanesca...
            E viva la Itália!
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            A aula era sobre palavras compostas.
            Vejam, alunos: lobisomem (lobo+homem), aguardente (água+ardente), quando fui interrompida pelo garoto da frente.
            -Professora essas palavras existem no dicionário?
            -Certamente. Por quê?
            - Por que não acho aqui chupacabra (chupa+cabra).
            -Isso é lenda! Gritou o de trás.

           








Pode ser...

Pode ser quem um dia eu não tenha mais que chorar de saudade.
Ou que aprenda a chorar baixinho
Pode ser que meu coração se acostume a sentir no choro a lágrima, como que a fertilizar o sentimento. E talvez até possa usar como adubo orgânico o perdão.
E crescer no inverno obscuro e incógnito da alma maturada como criança tímida, perseguindo as suas verdades, as verdades da vida.
Vou correr e vou brincar as coisas que brincávamos….
Vou desenhar crianças e pássaros voando ao meu redor numa folha de rascunho de papel reciclado.
Corações coloridos, gifs animados de animais, vídeos que compartilhamos juntas.
E, finalmente, quando o corpo se extenuar e procurar o repouso, vou apagar meus olhos e dormir.
Descansar. E sonhar com você. E minha alma se alegrará porque aprendeu que a saudade, quando de amor verdadeiro, pode ser capaz de germinar frutos de sabor intenso, que frutificará em todas as estações.
Se por intrusos o medo ou o sonambulismo vierem nos incomodar vou lembrar que você está ao meu lado e que juntas rezaremos para a chuva ou a tormenta passarem….
…….Ó Jesus, deus da luz, quão afável é o seu coração…
Percebe? O amor é algo que nos faz  sorrir sempre….
E hoje……

Hoje é Natal. De presente esses três reis magos te trazem ouro que ilumina, o incenso que te envolve e protege e a mirra da prosperidade para o ano de 2020. A você e a toda a sua família… minha saudade!😱😹💔💔💔

Zé Munhanha, uma saudade

Zé Munhanha, uma saudade

Zé Munhanha era um garoto de seus doze anos, que morava com sua família e mais cinco irmãos em um pequeno vilarejo de uma Fazenda Experimental, mais conhecida por Campo de Sementes.

Ali também habitavam mais uma dezena  de famílias que viviam do reflorestamento e   plantio de árvores, em sua grande maioria  mudas frutíferas.

Seu pai e os dois irmãos maiores ajudavam no trabalho da lavoura, e, como bons tocadores de gaita, viola  e sanfona,  alegravam as festas juninas, enquanto suas três irmãs estudavam e  auxiliavam a mãe nos cuidados com a horta, galinheiro e na limpeza da casa, que não era grande, mas muito bem cuidada, enfeitada de flores e imagens de santos por todo lado.

Um ambiente tranqüilo e feliz era o Campo de Sementes.

Todos os jovens e crianças estudavam em uma cidadezinha próxima, e o transporte era fornecido pelo engenheiro agrônomo, às vezes era um caminhão FNM, em  outras uma pick-up, com bancos mas sem cobertura, o que representava um esforço maior quando chovia naquele local.

 Todos se ajudavam como podia, ou como Deus queria, os guarda-chuvas eram comunitários, assim também as capas de lona dos pais lavradores asseguravam o percurso de vinte minutos de trajeto até o colégio estadual, onde alguns freqüentavam o grupo escolar, outros ginásio, ou ainda curso clássico e científico.

Mas, Zé Munhanha, um garoto dotado de necessidades especiais, gostava mesmo era de petecar e apreciar os jogos de bocha dos adultos.

Peteca artesanal, feita por suas próprias mãos, com meias velhas recheadas de retalhos e penas de galináceos, recolhidas pelo quintal da casa,  quando estas se renovavam, ou quando os pobres bichinhos viravam almoço da humilde família.

Tinha pena de galo, galinha, peru, pato, galinha de Angola, ganso e até de pavão.

Essas eram as mais disputadas, quando por vezes eram cedidas pelo feitor da fazenda, pois se destinavam ao adorno da casa de sede do engenheiro agrônomo responsável pelo recanto.

Havia até trocas com outros garotos e algumas eram pintadas com urucum para dar mais vidas e cor aos brinquedos.

Faziam campeonatos nas férias, reuniam toda a comunidade e em especial as meninas, que iam contemplar o colorido e a façanha daqueles objetos e de seus donos.

Nesses dias, a felicidade de Munhanha era ímpar, pois em meio a tantas petecas que subiam e desciam, a sua era sempre a mais aguardada, certamente pelo carisma e gosto diferencial  do garoto.

Durante todo o período de férias e recesso escolar lá estavam os festivos petequeiros, disputando ou somando prazeres que garantiam-lhes prêmios como: peão de corda, bolas de gude, pipas e até guloseimas preparadas pelas mães.

Quando não, os passeios de charrete conduzidos pelos pais, outra diversão bastante animada e até as meninas podiam participar, animando o cortejo com belos cantos folclóricos aprendidos na escola.

E assim também era a vida das petecas: um impulso bem direcionado com as mãos masculinas e elas, tais quais obedientes garotas, subiam e desciam verticalmente para as mãos de seus donos, enfeitando o céu anil daquele Campo Experimental todo coberto de verde.

O ponto de partida era um campo de amendoim com suas flores amarelas, porém os magros pés descalços não agrediam o solo, e, com tanto cuidado eles recolhiam seus objetos, com precisa rapidez para que não se estragassem.

Não pense que as petecas - estrelas acrobatas - não eram bem cuidadas o ano inteiro; ao contrário, depois de usadas eram espanadas, reajustadas e iam direto para as caixinhas enquanto aguardavam em forma a próxima disputa.

Zé Munhanha fabricava muitas petecas, pois elas animavam a sua vida de maneira especial, como só os que o conheciam podiam avaliar e admirar, tarefa nada difícil para quem vive em perfeito espírito comunitário.

Em dias de aulas, só parava de brincar  quando a mãe chamava para se aprontar para a escola.

A peteca ia junto, bem guardadinha no embornal, quem sabe, no recreio, às escondidas e com a ajuda da inspetora Dona Déia, pudesse brincar um tiquinho.

Porém, nem tudo era fácil para o Munhanha: sua maior dificuldade era aprender o catecismo que Dona Rosa ministrava religiosamente preparando assim toda a criançada para a Primeira Eucaristia.

[...] - Quem é Deus? Quais os mandamentos da Santa Igreja? Repita o Ato de contrição [...]

Nada disso Zé Munhanha gravava e, muitas vezes, sua mãe o sovava, o que o levava a esconder-se a tarde toda, acabrunhado de vergonha.

Seus amigos, porém, não se importavam se ele não aprendia rezar, mas às vezes faziam troças e inusitadamente o Zé partia para a briga, quase sempre apanhando sem dó.

Pobre do Zé Munhanha, tão estranho e tão solicitado!

Em dias de chuva, quando quase ninguém saía de casa para brincar, lá ia o Munhanha dando seus pulinhos, rosto debaixo da chuva e batucando os dedinhos como se fosse sempre carnaval, intimando os mais afoitos à folia.

Eu também, menina agitada, adorava vê-lo e já me excitava por sair daquele quarto fechado, afinal quem que aguenta não brincar, nem que seja sob um raro dia de chuvinha?

Sol e chuva, casamento de viúva, chuva e sol, casamento de espanhol, rodando e correndo de mãos dadas íamos aos mangueirais recolher as mangas foguinho caídas com a chuva. Que privilégio!

A chuva até cessava, mas a mãe chamava para dentro se não ficaria doente e eu me despedia de meu amigo querido, um verdadeiro anjo de bondade e entusiasmo.

Num certo dia de festa junina, lembro-me bem, rezamos o terço e a ladainha de Nossa Senhora  para comemorar a festa de São Pedro, na casa da catequista Dona Rosa,  que tinha um filho do mesmo nome do santo, e, em procissão fomos todos erguer o mastro com a imagem dos santos com era feito todos os anos .

A casa ficava num espaço próximo a uma mina de água e, por infelicidade, na hora da queima dos fogos, algum desprevenido soltou uma bomba grossa que caiu perto da água e, enquanto todos gritavam “gorou”, que quer dizer não estourou, Zé Munhanha, inocentemente foi pegar para conferir e...

A tragédia aconteceu. Desencanto total. A bomba demorou, mas estourou na mão do menino, que passou a sangrar muito, diante de todos; a ajuda vinha de todos os lados, jogavam água da mina que diziam ser curativa, os homens faziam sangria, enrolavam os dedos e a mão do menino que gritava de dor..

Nem é preciso dizer que a festa terminou por aí, com o corre-corrre a buscar o motorista que notificou o engenheiro, na tentativa de reanimar o menino até que chegasse à Santa Casa para o procedimento cirúrgico.

Lembro que chorávamos muito e pedíamos a São Pedro, Santo Antonio, São João e até São José para que não deixasse o pior acontecer àquele amigo muito mais que especial para todos nós.

E daquela longa noite a lua e as estrelas se despediram, em cinzas tremulantes as espigas de milho e batatas-doce torravam nas fogueiras, enquanto as famílias se retiravam para suas casas em orações.

E os três santos, lá do alto do mastro, tremulantes, pareciam querer consolar tantos corações contritos...

Ao amanhecer todos ficamos sabendo da triste notícia de que o Zé perdera dois dedos da mão direita!

A tristeza foi geral. E agora, como empinaria pipas ou teria a manobra firme para impulsionar suas petecas?

Inacreditável dizer, mas quando fomos visitá-lo, o Zé sorria com a mão enfaixada, como a dizer “estou aqui e logo estaremos brincando nos campos de amendoim”...

Alguns meses depois, já quando chegava setembro, as flores do campo de amendoim emprestavam seu colorido para brilhar na reestréia do Zé Munhanha no campeonato de pipas e petecas.

Todos em volta do amigo incentivavam-no a empinar sua pipa com a mão esquerda e, futuramente, com melhor cicatrização, retomaria os treinos para ganhar força no arremesso de sua peteca.

Mas, Zé Munhanha, que amava petecar, com aquela cara de quem está meio atrapalhado, acabou fazendo exatamente o contrário: pegou a peteca com sua mão esquerda, ensaiou algumas vezes e lançando-a para a mão direita com toda a força de sua emoção e alegria arremessou-a tão alto, que ninguém conseguia vê-la.

Ninguém também conseguiu vê-la voltar. Estupefatos, olhavam por todos os lados para ver se não se encontrava no chão.

Nada! Nem sinal da peteca. Nada a não ser o espanto geral. Todos ensimesmados pelo ocorrido se entreolhavam aflitos.

Só Munhanha olhava o céu, dava pulinhos e batia as mãos, um toque mais suave, mas intenso, como se tivesse certeza de que ela retornaria.

Não havia explicação. A peteca que todos viram nas mãos do menino, como que num mistério desapareceu no infinito.

E a peteca do Munhanha não retornou, nem naquele, nem nos próximos dias, o que foi deixando o menino triste e sempre fechado em sua casa.

Tentávamos reanimá-lo, contar histórias, pular corda, mas parece que aquele brinquedo era o que dava sentido à vida do menino.

Passaram-se mais dois anos e chegaram as festas juninas. Ninguém mais tinha prazer em fazer o ritual sacro- festivo completo.



Era dia de chuva e os adultos do Campo de Sementes resolveram apenas celebrar o terço para homenagear o santo que tinha as chaves do céu – São Pedro e oraram com maior fervor pela cura do Munhanha, o garoto da peteca.

“Se não podia reaver os dedos, pelo menos que o santo ajudasse a tirá-lo daquele estado de prostração acabamento” – pediam em seu interior.

Entoávamos com seriedade dantes nunca vista, a ladainha pedindo aos santos a proteção divina, quando após um minuto de silêncio, Dona Rosa, a catequista invocou “São Pedro, rogai por nós” e todos ardentemente responderam “Amém”!

Voltando ao quintal para erguer o mastro, a comitiva sem saber o que acontecia vislumbrou como que envolto em fumaça, a imagem do Santo que devolvia ao Zé sorridente, a sua peteca.

Peteca daqui, peteca dali e o Zé Munhanha, sob um facho azul-esverdeado de luz que vinha do céu, saltitava e unia suas mãos em palmas, a sorrir nos campos de amendoim...

Parece que o Campo de Sementes continua a produzir até hoje muitas sementeiras, regadas  de amor e de fé , tendo merecido por parte dos moradores que ainda por lá habitam de  Recanto de petecas munhanheiras.